sábado, 31 de dezembro de 2016

OS COMEDORES DE BATATA

Os Comedores de Batata - 1885 - Vicent Van Gogh
Imagem: https://www.vangoghmuseum.nl


A pintura é de Vicent Van Gogh, "Os comedores de batatas", do ano de 1885.

Por fim, a mocinha de costas no primeiro plano da pintura evidencia que não era o objetivo do artista protagonizar as batatas cozidas que estão sobre a mesa, uma vez que essa mesma mocinha de costas no ângulo central da cena distribui nossos olhares para os detalhes dispersos na obra, cuja mensagem extraída é a união familiar cotidiana sem qualquer protocolo  comportamental inerente às reuniões esporádicas que requerem muita simpatia forçada com a obrigação de ser feliz e rir da piada sem graça de alguém, que nem de batata gosta. 

terça-feira, 5 de julho de 2016

DESERTO MAGRO


Essa pergunta parece capciosa e talvez seja arguta demais para os nossos padrões de bondade divina intrínseca em nossos corações, sobretudo te leva ao ápice de um autoconhecimento reflexivo para todos os dias.

Você é um guerreiro estimado com admirável habilidade em espadas amoladas e muito considerado por diferentes povoados de toda a redondeza das terras por onde passou.

Dessa maneira, certa vez se pôs a caminhar sozinho por vários dias num deserto extenso para pensar maduramente no real fundamento de todas as guerras pelas quais lutou e nas quais morreram os amigos.
Na duradoura caminhada tu carregas consigo uma espada embainhada e uma vasilha compacta pendurada a tiracolo com boa quantidade de água potável para beber em percurso. 
Após alguns dias você encontra o funesto anjo rebelde expulso do céu, o demônio em pessoa, carne e osso, satanás agonizando na areia infértil do deserto, quase morto, pedindo misericórdia e um pouco de água pra beber, estendendo a mão enquanto roga por clemência.


Você, como guerreiro esclarecido e conhecedor do ensino que difunde o amor, tem que decidir se desembainha a sua espada e corta-lhe a cabeça separando-a do corpo para matá-lo com a intenção de saciar o desejo de vingança, ou lhe cede a ajuda e um pouco de água pra beber, deixando exalar pelo seu coração o amor instruído pelos seus antepassados como base para tudo que é bom. 



A paradoxa vingança ou o paradoxo perdão?

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

PÃO CASEIRO COM SUCO DE LARANJA.


No pomar colhendo laranjas, eu a vi mais linda do que nunca, e eu também colhia laranjas, meu cesto já estava cheio, então sentei um pouco na sombra pra descansar e aproveitar em silêncio a oportunidade de vê-la.
Hoje ela estava sem chapéu e com os cabelos trançados para trás das costas com algumas mechas soltas por cima de seu rosto de sobrancelhas levemente franzidas pelo incômodo da luz frontal que vinha do sol.

Pacientemente ela tirava os cabelos dos olhos e colocava-os para trás da orelha com o dedo indicador, nessa hora pude ver uma pétala de flor amarela colada no suor de sua bochecha, bem na maçã do seu rosto, e que contrastava com o tom da pele. 
A pétala caiu e uma gota do suor dela desceu pelo contorno do queixo e escorregou pelo pescoço, para dentro de seu decote, entre a fenda de seus dois seios formosos que mais pareciam dois pães caseiros macios e caramelizados.

Vendo isso, eu descasquei uma laranja e chupei para dispersar os pensamentos, chupei com muita força.

Ela mordeu o lábio inferior como sinal de algum esforço que fizera para levantar o seu cesto com laranjas colhidas do pé. 
A blusa de tecido velho e florido fora amarrada acima da cintura e deixou visível seu umbigo, e de novo ela se agachou para pegar os frutos do chão, no entanto, antes, subiu sua saia rodada e também florida para cima dos joelhos, deixando à mostra um terço de suas pernas de mulher, e por causa do calor que fizera, abriu com as duas mãos, um botão a mais do seu decote.
Nessa hora eu descasquei outra laranja e chupei até o bagaço.
Eu gosto de laranjas e coisas equivalentes de sabor cítrico, talvez o beijo dela fosse assim, cítrico.
Para não chupar todas as minhas laranjas, levantei da sombra, peguei um outro cesto vazio e continuei meu trabalho na roça, visto que meu salário dependia das colheitas de laranjas, e meus dias felizes na sombra, dependiam da presença dela no pomar.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

O DEPRIMIDO PRANTO OCULTO DO ÚLTIMO VEGETARIANO MELANCÓLICO


Então aproveitei o fato de estar na cozinha cortando cebola, para assim poder chorar de verdade. 
Quem via os meus olhos molhados pensava que fosse pela cebola picada em cubinhos, no entanto, era o meu coração que doía. 
Mas ninguém sabe.
Eu chorei de verdade durante todo o preparo da salada e ninguém percebeu isso.
Que bom, senão me encheriam de perguntas de comiseração, e eu não queria conversar com ninguém naquele momento, eu só queria terminar de cortar a cebola para poder ir cortar os tomates e os pepinos também.
Enfim, enxuguei o meu rosto com um guardanapo de papel e temperei a salada com vinagre e sal. Coloquei um pouquinho de limão e ficou uma delícia. Acho que foi a salada mais gostosa e a mais triste que fiz na minha vida.
Uma boa salada com tomates, pepinos, pimentões, e com cebola, para a qual eu havia aberto a minha vida.
Todavia não comi, eu não quis jantar naquela noite, não tinha apetite.
Então deixei que todos seguissem para a mesa arrastando suas cadeiras e trocando conversas engraçadas entre si, e fui discretamente para a sacada olhar a noite quente sem vento, sem nuvens e sem lua.
E lá fiquei com os pés descalços tomando uma fresca e esperando que o astro lunar ainda fosse aparecer no céu.
Discorri mentalmente e me pus a pensar na variante de alegrias e tristezas que vêm e vão como as ondas na praia.
As ondas do mar nunca respeitam a ordem das coisas, são aleatórias e arrebentam os castelos na areia da praia.
Contudo, semelhante à criança obstinada, continuamos a construir castelo de areia na beira do mar, ignorando o efêmero.
Depois de pensar nisso, me deu fome, então resolvi ir jantar, calcei de novo as sandálias e fui para a cozinha fazer outra salada igual aquela, com bastante cebola.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

LEVANTE DE NOVO

E se ainda assim você já não consegue mais, se seus pés já estão estourados ou você não sente mais as suas pernas, proceda o caminho se arrastando.


quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

VIDA, VAGINA, REAPRENDIZADO E LUZ

















Devagar a gente vai encontrando umas brechas que irradiam luz, é difícil sair por elas, são brechas apertadas e emborrachadas, por elas renascemos a todo momento, são comprimidas justamente para te dar a aptidão de sair de coisas apertadas e emborrachadas que encontramos aqui fora.
Encare os problemas como um longo trabalho de parto, não importa o quão apertada e escura esteja a vagina em que você está agora, depois de um tempo de gestação, sem cesariana, você será expelido por ela. E meio que assustado e ainda besuntado do caldo viscoso do lugar onde você esteve, reaprenderá a andar.



                                                                                                                                          
    



quinta-feira, 23 de setembro de 2010

ANJO BONITO


- Pai.


- Sim minha filha!

- É verdade que quando eu morrer, eu vou virar um anjo bonito?

- Minha filha, você não vai morrer, você só está um pouquinho doente, só isso.

- Mas eu ouvi você falar com a vovó, que o médico disse isso.

- Filha, pare! Senão o papai vai chorar aqui, em cima de você. Você quer ver papai chorar?

- Não, não quero. Mas eu queria saber se anjos são bonitos e se eles têm olhos azuis, cabelos dourados.

- Filhinha! Os anjos são bonitos sim, é verdade, porém eles têm olhos castanhos e são carecas. Todas as menininhas lá no céu, são lindas, de olhos castanhos e carequinhas, assim como você, meu bem.

OS COMEDORES DE BATATA